Isso NÃO é muito Black Mirror! – Charlie Brooker quase tornou-se o próximo Philip K Dick –

Nesse artigo “saio” dos temas que costumo trabalhar aqui no LinkedIn, entretanto ao entenderem o ponto em que quero chegar, notarão que faz sim sentido com o que costumo escrever (produção de conteúdo e marketing) e como está presente em nosso dia a dia. 

Creio que a maioria dos leitores conhecem a série Black Mirror, e também acredito que assim como eu, muitos a conheceram pelo serviço de streaming NETFLIX. Mas, caso você não a conheça, deixarei aqui a sinopse oficial para que compreendam a ideia deste artigo:

Sinopse:

“Uma espécie de híbrido entre “The Twilight Zone” e “Tales of the Unexpected”, Black Mirror explora sensações do mal-estar contemporâneo. Cada episódio conta uma história diferente, traçando uma antologia que mostra o lado negro da vida atrelada à tecnologia.”

Fonte: Adoro Cinema

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Conheci Black Mirror quando ela já estava ali pela terceira temporada, ou beirando lançar sua terceira temporada, confesso que não lembro ao certo. Comecei a assistir em ordem cronológica, e para os que também assistiram, me deparei com o “episódio do porco” ficando fortemente agoniado e pensativo com o que assisti. Após o choque e surpresa para com o episódio, refleti sobre a qualidade do que acabei de ver, nos detalhes do roteiro e da forma que a crítica foi apresentada. Não apenas a tecnologia, mas ao comportamento, ações e escolhas dos personagens; esses muito bem representados, pois claramente seriam ações que alguns de nós tomaríamos. Maratonei as primeiras duas temporadas – essas ainda produzidas pelo britânico Channel 4 – de uma forma intensa e em todos os episódios ficava com os mesmos pontos a refletir. Além de mastigar o que havia assistido, ficava pensando na qualidade textual de cada história. 

Charlie Broker para mim fizera nas primeiras temporadas algo que Philip K. Dick (PHD) ficaria orgulhoso. Não sei se Brooker um dia cogitou ser comparado assim e até onde vai suas influências, quero deixar claro que essa comparação é pessoal e alegro-me a ver quando não sou apenas eu quem assim a faz. 

Quem é Philip K Dick? 

PKD, como também chamado, foi criador de grandes obras literárias e um dos grandes influenciadores da ficção científica, tendo diversas obras adaptadas para o cinema. Entre suas criações estão: Blade Runner (Androides sonham com ovelhas elétricas?), Minority Report, O homem do castelo alto, O Tempo desconjuntado, UBIK (Essa já homenageada em Black Mirror), Sonhos Elétricos, e muitos outros. 

Mas o que seria isso que deixaria PKD tão alegre nos textos de Brooker, afinal? 

Não usar apenas a tecnologia para dizer “Olha o que ELA pode nos causar” ou “Olha como a tecnologia é malvada”, mas sim criticar justamente o comportamento humano UTILIZANDO da tecnologia para. O tom “Isso é muito Black Mirror” não é para falarmos referente a tecnologia, ao computador que tudo consegue fazer, mas sim em como a humanidade se comporta e a utiliza, ou qual a real finalidade para ter criado tal máquina. As críticas de Brooker são fortemente, assim como PKD sabia fazer com maestria, à humanidade e a como ela é suscetível ao pior dos comportamentos e ações utilizando dessa ou, por uma essência muitas vezes corrompida ou instintiva, somos suscetíveis a um caminho negativo quando utilizamos todas essas inovações em demasia. 

Ter essas críticas e ideias convertidas em texto e, não apenas isso, mostradas em um contexto fictício, uma história criada para transmitir o raciocício, me encanta tremendamente. É fantástico o trabalho de ambos os autores. 

Como dito, as primeiras temporadas de Black Mirror me ganharam e as tenho com muito carinho na lista de melhores séries/textos/roteiros que assisti. Considero nisso as duas primeiras temporadas (Channel 4) e a terceira temporada (NETFLIX). Quando o serviço de streaming comprou e lançou-a com a terceira temporada foi incrível, um grande avanço na distribuição e alcance da série. Esses textos precisam chegar a mais pessoas, essas reflexões são necessárias para um uso mais consciente da tecnologia, pensava eu. Entretanto, a partir da quarta temporada tive um desencanto. Brooker precisou entregar os roteiros em menos tempo. Claro, entendemos que roteiristas/produtores de séries precisam de dinheiro, pagar suas contas… Mas nitidamente a qualidade da série caiu. Tempo é necessário para escrever esse tipo de material. O roteirista possuía um prazo maior quando trabalhava com o canal britânico, e agora tem outro rítmico para com a NETFLIX. Mas a culpa não é apenas da “venda”, e sim também dos fãs, ao meu ver. Infelizmente existe uma cobrança por lançamentos mais rápidos, pois “o público não sabe esperar”. A necessidade de que as outras temporadas sejam lançadas com mais rapidez, torna a série mais vendável e todo um ciclo comercial que já conhecemos. Mas até que ponto isso é saudável para uma série ou produto que gostamos?

Seria muito melhor um período mais extenso de tempo para o lançamento, mas sermos surpreendidos por ótimos episódios, não? Pelo menos é assim que penso. E sinto falta disso para a série.

Ao dizer que Brooker quase tornou-se um Philip K. Dick, me refiro justamente ao ponto de atualmente ser, por muitos, apenas relacionado a Black Mirror. Quando vemos esses novos episódios fracos, não estamos vendo seu verdadeiro potencial. Recomendo também lerem alguns artigos de Brooker para o The Guardian, com ótimas criticas também ligadas ao nosso comportamento para com a tecnologia, e algumas políticas (com foco na realidade do Reino Unido, claro). Brooker é alguém que deve ir além da série, merece ser reconhecido por seus textos/roteiros e pela qualidade do que fez e faz. Black Mirror pode estar limitada, mas o autor não. Quem sabe ainda o veremos lançando incríveis textos, seja em livro ou em outra série, novamente. Porém, por enquanto, quase tivemos alguém para ser um possível Philip K. Dick da atualidade, e não digo em tom de comparação, mas sim de importância. PKD deixa de ser apenas um autor, para ser um símbolo em trabalhos tão profundos mesclando a ficção científica com críticas tão importantes e que se mantém necessárias, em muitas delas, sendo atuais e reais. 

Anteriormente, cito que UBIK de PKD foi homenageado em Black Mirror, mas infelizmente foi em um dos episódios/filme que mais me decepcionei, Black Mirror: Bandersnatch. Esse definitivamente foi a NETFLIX aproveitando de uma hype e emoção em relação a série, forçando-os a utilizar de uma ideia ótima [ideia essa que é digna de PKD], de uma forma grotescamente forçada, mal trabalhada e brutalmente comercial. – Comercial precisa ser, mas quando dito “brutalmente” é por ir além do necessário para o caso -.

Todavia, faz parte, principalmente no universo das séries. Quem sabe em breve Brooker não chega com um lançamento surpreendente, seja em Black Mirror ou em outra produção, para animar a todos os seus fãs, não é mesmo?

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Quantidade e qualidade | Criação de conteúdo

Algo que temos que aprender a nivelar muito bem em nossas produções é a quantidade e qualidade. Não podemos cair no utópico argumento de “O artista tem que trabalhar em seu tempo”, ou frases semelhantes, pois se tem algo que aprendi na The Second City, quando produzíamos em aulas até 3 roteiros por semana, é que tudo é técnica. Uns podem ficar mais inferiores a outros, mas estava lá, fizemos. Mas, quando temos mais liberdade criativa, também não precisamos e nem devemos prometer um número/ prazo que fuja de nosso controle. 

A pergunta a ser feita deve ser, para qualquer conteúdo, “Qual é a intensidade que devo ter para que consiga criar meus materiais, mas ainda assim seguir na periodicidade desejada?”. Talvez, se focarmos em criar um material muito bom e lançarmos mensalmente, não seja algo positivo, pois mesmo que o trabalho esteja bem feito, a periodicidade não consegue alcançar e gerar uma rotina ao consumidor. Diário, por exemplo, diminuiria demais a qualidade devido a quantidade, mas talvez o semanal ou até o quinzenal sejam alternativas. Logo, é acharmos um equilíbrio entre a produção e a divulgação, para que assim mantenhamos a qualidade de nossos produtos. 

Ao falarmos de textos que exigem mais tempo, podemos falar de séries onde os roteiros da temporada levam até dois anos para ficar pronto. Se pedíssemos para que a próxima temporada fosse entregue em seis meses, nitidamente teríamos uma queda na qualidade. Porém, se dois anos está sendo demais, talvez reduzisse apenas para 1 anos, tendo o equilíbrio antes falado. É assim que funciona? Não… Sabemos muito bem que o mercado midiático, ainda mais com séries, é fervoroso e exige quantidade. Mas nossa vida não é escrever para séries [ Se você é roteirista, me ajude a te ajudar…], e nosso conteúdo está ai para ser e sendo criado, o que parte de nós é justamente encontrarmos esse equilíbrio, criarmos bons conteúdos, mas termos uma periodicidade para com nosso público. 

Mas e você, tem algum relato referente a Qualidade x Quantidade para nos contar? 

Deixe nos comentários, por favor. 

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Pedro Gonçalves é Coordenador de marketing na Pêssego Atômico – Produção multimídia e Consultoria em Marketing, trabalha com consultoria e gestão com diversos clientes na região da AMUREL em Santa Catarina. 

Também é host do podcast Pêssego Podcasts onde fala de Literatura, Cinema e Quadrinhos, e possui quadros semanais nas rádios Porto Gravatá (Gravatal – SC) e Pamppas WEB (Porto Alegre – RS). 

Roteirista de Sketches de comédia pela The Second City – Comedy School de Chicago.

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