INVOLUÇÃO OU TROCA INFELIZ? Deixamos de acreditar nas mentiras da TV e do Rádio para acreditar nas mentiras do WhatsApp

30 de Outubro de 1938, Rádio CBS – Estados Unidos

Para bater a concorrente NBC, Orson Welles entrou com seu grupo de teatro com uma “notícia extraordinária”, em meio a programação musical, para noticiar a invasão de Marcianos. O programa dramatizou o Clássico “A guerra dos mundos” de H.G Wells, relatando a invasão dos marcianos ao chegarem com suas naves na cidade de Grover’s Hill, Nova Jersey.

A encenação de uma hora, transmitida como notícia, levou ao menos 1,2 milhão de pessoas a acreditarem que os E.U.A estava sendo invadido de fato.


O exemplo acima é muito utilizado quando falamos da influência do rádio nos anos 30 e 40. Ao avançamos mais alguns anos no futuro, além do rádio vemos uma força agora maior nos noticiários e programas televisivos transmitindo suas mensagens ao grande público, sendo elas verdades ou não. A televisão por anos foi o maior meio de manipulação, já que toda a grande massa sentava-se em frente as telas.

Jornal Impresso, Rádio, Televisão… e então o povo não precisou mais esperar a notícia, pois essa começava a chegar de forma instantânea pelos portais online.

Em 1987 a Internet foi liberada pela primeira vez para fins comerciais.

Inicialmente, quando criada em 1969 e ainda chamada Arpanet, era utilizada para interligar laboratórios de pesquisa. Em 1982 o uso dessa cresceu no meio acadêmico, mas ainda restrito aos EUA, expandindo logo mais para Holanda, Dinamarca e Suécia. Anos depois, para o mundo!

Nessa evolução as informações e notícias começaram a aparecer em velocidade incrível pelos portais de notícias, vídeos, blogs, redes sociais e nos mais diversos meios. A “informação” tornou-se mais acessível do que nunca, entretanto a desinformação ganhou a mesma proporção. Como tudo, quanto maior mais lados positivos e negativos aparecem, e dessa forma, as chamadas “Fake News” ganharam força e abrangência.

Conquanto, em 2009 foi criado o nosso “querido” WhatsApp, meio de comunicação que tirou o lugar de muitos outros serviços de mensagem e domina ainda o mercado, principalmente quando tratamos de Brasil.

São milhões de mensagens encaminhadas por dia, milhares de notícias nos mais diversos grupos, sem nenhuma peneira sobre fato ou verdade. O “afegão médio”, cidadão comum usuário de internet, não busca sobre a veracidade dos fatos, apenas os compartilham. E não falo de pessoas pouco esclarecidas, muito pelo contrário, diversas pessoas com muito conhecimento estão não só sucetíveis as fake news, como também as disparam; os fatores podem ser os mais diversos para essa ação, mas já entraríamos em outra discussão. Referente aos com menos conhecimento, de regiões pobres com recente acesso a internet, temos que pensar que o fato de que para eles, ter um celular já é algo incrível, existir a internet nem se fala! Imagina quando a informação chega na mão dessas pessoas de forma tão prática… É, em minha opinião, super compreensível se esses pensarem o clássico:

“Se tá na internet é verdade!”
Primeiro que não há, por muitos, uma leitura completa dos textos. Ler as manchetes e títulos já bastam para alguns como se fossem as próprias notícias. Ler o título e “compreender a notícia” é uma ação feita por todas as classes sociais, mas o que não podemos esquecer e sempre ressaltar é que manchetes e títulos tendenciosos também são considerados um tipo de fake news.


“Mídia mentirosa!”

Engana-se você se pensa que chamar um veículo de comunicação de mentiroso e/ou golpista é algo atual. Desde sempre veículos que atacavam x ideologias, ideias ou pessoas eram criticados e xingados pelos que pensavam de forma diferente. Esses, quando tinham grande impacto, conseguiam influenciar o público para acreditarem no que era apoiado pelo veículo, e sendo o meio de comunicação mais confiável, assim acreditavam. Entretanto, com essa “democratização da informação” foi possível que o público saísse de uma bolha e recebessem informações distintas que contrariavam o viés dessas que dominavam.

A saída dessa bolha durou pouco, como costuma durar. É natural do ser humano que foque em suas opiniões e gostos, e por isso acabar se fechar em uma nova bolha apenas com os que compactuam dessas e compartilham notícias com a mesma visão. Com isso, a mídia que era forte torna-se “mentirosa”, já que os espectros aumentaram e há outras opções de conhecimento. No entanto, quem nos garante que esses também não estão criando mentiras?

Não usarei o termo “inverdades” ou “pós verdade”, devido não concordar com nenhum deles. Qualquer coisa que passe o limite da verdade se torna automaticamente uma mentira.

Nessa troca de fonte, acabamos por colocar uma crença no novo veículo, mas quando falamos da Era do WhatsApp, não estamos nos referindo a notícias emitidas pelo aplicativo, e sim por informações coletadas por um grupo de pessoas que encaminham para outras de maneira sucessiva, no comportamento clássico de não ler, conferir e nem pesquisar sobre o que são disparados. Sites focados em notícias falsas, textos tendenciosos, materiais pagos por times ideológicos x, y, z, tudo sem uma “curadoria” necessária. Com isso a sociedade torna-se vítima de mais um trabalho de manipulação.

Trocamos as mentiras da TV para as mentiras do WhatsApp. Mas seguimos acreditando no que nos convém, sem conferir veracidade alguma.

Quando digo que não há uma curadoria, quero dizer dos usuários que emitem, entretanto, com certeza há uma busca e uma seleção de notícias feitas pelo emissor inicial.

Em período de eleições, por exemplo, o momento ápice da sujeita escancarada, vimos uma batalha insana de notícias falsas vindas dos dois lados, e ambos acusando o outro de utilizar das “Fake News”. Bastava um Google para ver que os dois lados utilizavam da mesma estratégia. Pacotes eram comprados com centenas de fake news, bots [programas automatizados para realizar x atividade] para divulgá-las entre outras ações não só foram utilizadas como ainda são frequentes.


REINADO DE UM VEÍCULO |

Cidadão Kane – Clássico do cinema, também produzido e dirigido por Orson Welles
Todo grande veículo de comunicação, toda mídia teve seu reinado, algumas perduram, outras perdem forças e seguem fortes, evoluem… Os ciclos são diversos, estamos com os PODCASTs fortes no Brasil, o YouTube trabalha para não perder sua audiência… As mídias podem surgir e desaparecer, mas sempre há um jeito de informar.

Não tem como dizermos por quanto tempo o WhatsApp “reinará” como “meio de informação”, ou o próprio Facebook, que segundo uma pesquisa da Quartz divulgada como parte do relatório “Internet Health Report v0.1”, da Mozilla, 55% dos brasileiros acreditam que o Facebook e a Internet são a mesma coisa. Ou seja, você está no facebook, você está na internet. Mesmo com a atual política de bloquear as notícias falsas detectadas, ou permitir denunciar, são inúmeras para que o algoritmo da rede social dê conta. Não há como impedir que tantas notícias falsas se espalhem pela rede, permitindo que milhares de pessoas tenham acesso e, sendo dessa leva mais leiga, acreditando em tudo que aparece.

Contudo é natural, mesmo que leve tempo, que em algum momento a crença para com esses veículos diminuam, com toda a grande massa migrando de veículo, até mesmo para voltar aos meios convencionais.

A evolução é cíclica, vamos, criamos, evoluímos e retornamos. Não consigo imaginar novas formas de informação, por agora no momento em que escrevo, algo que chegue em breve, para poder utilizar disso no texto. Creio que em um futuro interligado com a inteligência artificial, seja possível que apenas ao pedirmos as informações, algum dispositivo, se não a própria casa, leia o que considerar mais importante. Não que isso já não exista em escala reduzida, Alexia da Amazon nos manda abraços, mas digo em comparação com o acesso a um aplicativo de mensagens para nos informarmos. A minha certeza de que esse método será substituído é grande, talvez não com tantos argumentos concretos por enquanto, mas por toda uma análise da vida desses.


CRITICIDADE

Falar “Temos que conferir as fontes, procurar em mais de um meio” é quase inútil.

Você acha que o cidadão que se atém muitas vezes ao título, da fato conferiria?

Temos que trabalhar a criticidade desde a base. Ensinarmos desde o primeiro contato com a informação a compreender, absorver mas não acreditar por absoluto. Toda informação emitida possui uma bagagem por trás, há todo um imaginário trabalhado seja pelas ideologias, pelo público que consome ou pela empresa que produz. São diversas informações que afetam o produto final de um material. Sermos críticos, lermos, avaliarmos, nos embaçarmos permitirá que tenhamos no futuro um cuidado com o que se recebe e se absorve.

“Mas são milhões de pessoas, não mudaremos todas, mesmo que com muito tempo…”

“Não precisamos mudar a todas, mudando quem emite as mensagens, levamos um material melhor a elas.”

Obrigado aos que conferiram o artigo, até a próxima semana!

Tem algo a acrescentar? Comente para que possamos conversar.

Até mais!


Matéria: 55% dos brasileiros acham que o Facebook é a internet, diz pesquisa.

https://olhardigital.com.br/noticia/55-dos-brasileiros-acham-que-o-facebook-e-a-internet-diz-pesquisa/65422

Pedro Gonçalves é Coordenador de marketing na Pêssego Atômico – Produção multimídia e Consultoria em Marketing, trabalha com consultoria e gestão com diversos clientes na região da AMUREL em Santa Catarina.

Também é host do podcast Pêssego Podcasts onde fala de Literatura, Cinema e Quadrinhos, e possui quadros semanais nas rádios Porto Gravatá (Gravatal – SC) e Pamppas WEB (Porto Alegre – RS).

Roteirista de Sketches de comédia pela The Second City – Comedy School de Chicago.

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